quarta-feira, 3 de julho de 2013

Isso é Jornalismo? (42)

A revista inglesa "World Soccer" - uma das mais renomadas publicações especializadas em futebol no mundo - fez uma eleição, convocando 73 jornalistas de um total de 42 países (com predomínio de italianos, ingleses e franceses) para selecionarem sua 'equipe ideal', com 1-4-4-2 - com exceção de atacantes, não havia restrição para as posições: bastava que fossem meias e defensores.

Capa da World Soccer, de Julho de 2013.
Pelos 73 votantes, o nome que mais apareceu foi o de Franz Beckenbauer, com 68 menções; depois, pela ordem, vieram Maradona (66), Pelé (63) e Johan Cruyff (60), os únicos com 60 ou mais votos. Zinedine Zidane, Paolo Maldini, Cafu, Bobby Moore, Lionel Messi, Lev Yashin e Alfredo di Stefano foram os restantes a integrar o "TOP 11". Dentre estes, apenas Maldini (48) e Messi (46) obtiveram mais de 30 votos.

O que se vê acima é uma descrição simples dos fatos, sem emitirmos qualquer julgamento acerca da qualidade. Este blog, por exemplo, crava que Pelé provavelmente merecesse estar na primeira posição, e também entende que Messi não esteja acima de Di Stefano e Garrincha (excluído dos onze melhores, com 16 votos).

No entanto, como foi dito, trata-se de uma eleição bastante democrática (?) e que refletiu uma opinião da maioria. Interfere, também, o fato de Beckenbauer e Maradona serem uma das possíveis escolhas dentre 4 nomes, enquanto que Pelé - e Messi - disputavam apenas dois lugares - o site "Trivela", do portal UOL, atenta para esse fato sem desdenhar da publicação.

Porém, como já é de praxe, o site GloboEsporte.com fez da ironia e do desdém uma espécie de editorial. Na matéria que comenta a eleição da publicação britânica, há indignação: apenas por Pelé não ser o primeiro ou por haver três argentinos escolhidos?

O texto está disponível na íntegra no link acima, por isso vamos aqui destacar algumas passagens que mostram aquele nacionalismo rasteiro.


Comentando sobre quem foram os 'eleitores', o texto afirma: "Ao todo, foram 73 votantes, nenhum deles do Brasil, um argentino e representantes de países com pouquíssima tradição em futebol, como Índia, Macedônia, Iêmen, Estônia, Uganda, Vietnã e República Dominicana."

Podemos perceber três vacilos ao "argumento" acima apresentado.

Primeiramente, como mencionado no início da nossa postagem, foram mais de 40 os países representados. E o texto se foca em 9 deles, como a querer explicar a presença de argentinos e a não coroação do 'rei': um argentino. Ora, seria ele o responsável pela presença de Messi, Maradona e Di Stefano dentre os escolhidos?

Elimine-se, pois, a votação do "hermano" (que atende pelo nome de Rex Gowar, correspondente da agência Reuters): Messi fica com 45 votos, Diego com 65 e Di Stefano com 25. O que acontece? todos eles permanecem nas mesmas posições, 2º, 6º e 9º, respecitvamente.

Em seguida, a matéria tenta desqualificar a eleição citando os já mencionados países de Europa Oriental, África e Ásia. Com que objetivo? Ora, são países com pouquíssima tradição no futebol, não é mesmo? Logo, só fariam escolhas insanas, irrelevantes.

Note-se, pois, que o nome de Pelé aparece em 5 dos 7 (Estônia, Uganda, Índia, Macedônia e Rep. Dominicana), o de Cafu surge duas vezes (pelos jornalistas de Iêmen e Vietnã), e ainda aparecem outros 4 brazucas: Jairzinho, Roberto Carlos (duas vezes), Carlos Alberto Torres (também duas) e Nilton Santos.

Ora, talvez Pelé merecesse ficar atrás de Johan Cruyff, já que estes 5 votos são de "nações sem importância para o mundo do futebol"?

Por fim, a última ironia surge com o termo "nenhum brasileiro".

De fato, nenhum dos 73 profissionais consultados é nascido no Brasil. Porém, Tim Vickery é citado na publicação como votante "from Brazil" (conferir imagem acima). O próprio texto, em estranho momento de 'respeito' aos eleitores, faz questão de transcrever a escolha de Vickery: "O inglês Tim Vickery, correspondente da rede britânica BBC no Brasil (...) indicou quatro brasileiros e deixou Messi fora.".

Vickery não é apenas correspondente da BBC: é um assíduo participante do programa "Redação SporTV", dentre outros do canal a cabo da mesma empresa que gere o site que publicou a matéria. A opinião de Vickery, aliás, fora recentemente consultada pelo GE, quando se tentou provar que a Seleção Brasileira de 1970 era melhor que a Seleção Espanhola atual. Coincidência ou não, foi ele o que mais citou atletas oriundos do Brasil, 4 em 11.

Ironia das ironias, porém, é que o mesmo Vickery entrou em discussão acalorada com outro profissional global (Toninho Nascimento, de "O Globo") ano passado, no supramencionado programa. O motivo: enquanto Nascimento considerava uma ofensa à moral e aos bons costumes comparar Messi a Pelé, Vickery disse que, sim, os referidos camisas 10 de Brasil e Argentina podem ser comparados.


Retire-se a opinião de Vickery, portanto. Não?!

2 comentários:

  1. Como pode o mesmo Vickery não escolher Messi?!?!

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  2. É sim mais um bom exemplo para os brasileiros finalmente assimilarem que não são donos absolutos do futebol. Também devem respeitar o futebol argentino, que surrou de cinta na eleição.

    Agora, o mais intrigante é o Nascimento (típica postura brasileira ao "discutir" esse assunto)se agarrar em Copas para dizer que é indiscutível...

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