sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Raça X Nacionalidade (18)


Hoje chegamos ao centésimo post da breve história do blog Hermanos & Brazucas. Nos 99 anteriores, já temos muita coisa p'ra contar.

Embora falemos bastante de futebol por aqui, o nosso blog não é sobre este esporte. O blog é sobre preconceito. Falamos sobre a existência – clara – dele, tentando lutar contra tal, e mostrando, por outro lado, os momentos de cordialidade e respeito.

Mitos

Cresci com a seguinte frase na cabeça: “no Brasil não existe preconceito racial, existe preconceito social”. Não me lembro exatamente em qual programa de TV ouvi isso, mas era num desses onde há rodas de debates, e as pessoas discutem sobre determinado assunto.

Além de absurda por negar o racismo que é evidente, essa frase como que nos torna passivos àquela cena comum da discriminação a mendigos, “pivetes” e moradores de rua em geral quando passamos com nossos carros, ou mesmo caminhando.

Desses, pouco interessa a cor.

Quando este blog foi “inaugurado”, dissemos que iríamos combater a “xenofobia mascarada que acontece no Brasil”, e afirmamos que “o futebol é a máscara utilizada”. Ao longo dos sete meses que nosso blog está no ar, vimos que essa realidade é muito clara. Só não enxerga quem não quiser.

Antes de tudo, é importante que se note que a xenofobia não é dirigida somente aos argentinos: já colocamos aqui os dados da ONU sobre a opinião da população brasileira em relação a imigrantes – a ampla maioria é desfavorável.

Além disso, podemos perceber no nosso dia-a-dia que estereótipos e opiniões “de mau gosto” são dirigidas especialmente a chineses, árabes, judeus e portugueses, isso sem contar que, de uma maneira geral, há um desprezo pela quase totalidade de países latinos: dia desses, por exemplo, estava circulando um e-mail com piadas relativas às desgraças do povo cubano.

Aqueles que afirmam que não existe xenofobia no Brasil defendem-se dizendo, primeiro, que o Brasil abriga diversas culturas, religiões, nacionalidades e cores em grande – e essa é a palavra – quantidade.

O outro argumento dá conta de que estrangeiros não são maltratados no Brasil de forma escancarada, pessoas famosas não dizem abertamente serem contrárias à presença desta ou daquela nacionalidade, não existem grupos “anti-qualquer um” de uma maneira ampla, e que nem mesmo no futebol há discriminação, haja vista a quantidade de estrangeiros aqui presentes.

Em última análise, tudo isso é verdade. No entanto, a questão de multiplicadade étnica me parece superficial tendo em vista que dois dos países que mais sofrem com índices de discriminação racial são também dois dos que mais recebem imigrantes: EUA (que possui quase o dobro da população brasileira) e França.

Já quanto ao segundo ponto, é preciso analisar com mais calma.

O primeiro passo para um dependente químico recuperar-se é ele(a) admitir que precisa de tratamento”.

O grande problema nisso tudo é que as pessoas não entendem (ou não querem entender?) que para haver xenofobia – e seu irmão de sangue, o racismo – não é preciso, necessariamente, que haja discriminação. Antes de ações, tratamos de sentimentos e pensamentos, ou seja: preconceito.

A associação de quaisquer ideias negativas a alguém por conta de sua origem/cor/religião/sexo é, por si só, preconceituosa.

Pense: existe diferença em associar falta de capacidade a todos os habitantes dos estados do nordeste e associar atividades de terrorismo a todos os muçulmanos? Há diferença, por exemplo, em classificar as mulheres como seres inferiores e ter os homossexuais por doentes/errados?

E existe diferença em você relacionar a característica de roubo (não falo de acusar uma pessoa de um crime, mas qualificá-la como “tendenciosa a praticar furtos”) aos afro-descendentes e imputar a mesma aos seguidores/praticantes de igrejas evangélicas? Não há diferença nenhuma, mas enquanto a segunda é passível de punição, a primeira é tida apenas como “uma opinião”.

Em todos os casos supracitados, está se criando um estigma. Estigmatizar é o mesmo que ser preconceituoso. E ser preconceituoso é o primeiro e último passo antes de se discriminar alguém. E é importante salientar que, em última análise, o preconceito é a justificativa para a discriminação.

Desse modo, quando alguém incute a característica de “preconceituosos”, "racistas", "discriminadores", etc, a todo e qualquer integrante do povo argentino, está no mesmo nível de homofóbicos, racistas, xenófobos, sexistas e outros segregadores. A única diferença é que, talvez, a pessoa ainda não pôs em prática um ato discriminatório.

Mas pode estar perto disso...

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