domingo, 15 de novembro de 2009

Raça X Nacionalidade (9)


O texto a seguir pode ser encontrado aqui. Trata-se da Federação Nacional de Jornalismo, por isso deve no mínimo ser respeitado. O autor é José Guillermo Culleton, que já foi mencionado por aqui no post "Muito Além do Futebol... (4)", o qual tratava de comparar notícias argentinas e brasileiras, no mesmo dia, sobre o mesmo asunto.

Culleton é jornalista e professor universitário em Santa Catarina. Nascido na Argentina, é naturalizado brasileiro e mora no país desde 1984. Já trabalhou em diversos veículos de imprensa em Santa Catarina, além de ser free-lancer do jornal argentino El Clarín.

O texto foi escrito em 26 de junho de 2006.

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A moda é discriminar argentinos

Nos últimos anos é assustador o crescimento da discriminação contra os argentinos no Brasil. Ter birra de argentino está na moda. O anti-argentinismo extrapolou a rivalidade futebolística e passou para as relações pessoais.

Incentivado por narradores esportivos e insuflado por comerciais de TV, desprezar argentinos passou a ser um comportamento nacionalista. Pessoas que até pouco tempo atrás eram imparciais, agora torcem contra a Argentina em tudo: desde esportes até indicadores sociais. Essa multidão não sabia que era uma questão de patriotismo ser ‘inimigo’ dos argentinos. Ainda bem que a mídia os avisou.

A cada dia mais, uma parte da mídia insiste em cultivar a rivalidade, ridicularizando e apontando supostos estereótipos que em nada tem a ver com o argentino comum. Nas narrações esportivas são comuns os comentários desabonadores. Na Internet, a proliferação de piadas de argentinos. Mas a grande novidade desta Copa são as propagandas na TV ridicularizando os argentinos. Recentemente, uma marca de cerveja foi obrigada* a tirar do ar um comercial que agredia e ridicularizava os argentinos.

O problema é que essa postura contagia parte da população, que começa a ter atitudes discriminatórias contra os argentinos. Há poucos anos atrás, não existia esse preconceito. Isso foi crescendo lentamente e agora está chegando ao limite do tolerável, refletindo nas relações interpessoais.

No início de junho, um professor universitário argentino, há 20 anos no Brasil, foi num Posto de Saúde de Porto Alegre. Tinha sofrido um pequeno arranhão no joelho após leve queda de moto. Percebendo o sotaque, o enfermeiro perguntou de onde ele era. “Argentino? Não acredito, num sábado de manhã e eu tenho que consertar um argentino!”, se referindo ao doutor em Filosofia pela Universidade de Oxford, e que hoje leciona numa conceituada universidade da capital gaúcha. Esse argentino, naturalizado brasileiro há anos, ficou na dúvida se contava ou não o lamentável episódio para sua esposa brasileira e seus dois garotos, também nascidos aqui.

Já existem relatos de filhos de argentinos que são constrangidos na escola por terem essa ‘triste’ ascendência. São vítimas de gozações e discriminação. O motivo? Fora a rivalidade futebolística, ninguém sabe muito bem qual é. Porém, todos têm a certeza de que ser argentino não é algo bom. Pelo menos, é isso que aparece constantemente na mídia. Assim, está se criando nas novas gerações um perigoso sentimento de xenofobia. E pior, em cima de um estereótipo desatualizado e preconceituoso.

Os 100 mil argentinos que moram no Brasil, não conseguem entender isso. A grande maioria tem parceiros e filhos brasileiros, além de trabalhar, pagar impostos e ter escolhido este país por opção. Por outro lado, milhares de brasileiros moram na Argentina. São admirados e respeitados. Na Argentina existe quase uma idolatria pelo Brasil. Essa sensação também pode ser vivenciada por todos os brasileiros que visitam Buenos Aires.

Enquanto isso, do lado de cá a coisa é diferente. Com o pretexto da rivalidade futebolística se cultiva a intolerância e o preconceito. Parece incrível, mas enquanto os argentinos têm admiração pelos brasileiros, aqui a ordem é esculhambar os ditos ‘hermanos’. Importante lembrar que afirmar ‘odeio argentinos’ não é menos discriminatório que dizer ‘odeio negros’ ou ‘odeio judeus’.

No Brasil, as leis são muito rigorosas com qualquer tipo de discriminação: contra negros, índios, crianças, mulheres e raças. Porém, contra argentino tudo pode! Isso está liberado. Os comerciais podem simular argentinos se machucando ou sofrendo agressões que não tem problema. “Isso é brincadeira. Não é para levar a sério!”, dizem alguns.

O perigo é que esses gestos de intolerância incentivam outros gestos parecidos. Inclusive os exageros, como os do enfermeiro em Porto Alegre.
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*Na verdade, a Skol (marca de cerveja referida no texto) não foi 'obrigada' a 'retirar o comercial do ar' mas, sim, foi 'recomendada' a 'fazer alterações' no mesmo, conforme vimos no post "Propagandas".

4 comentários:

  1. Só cego não percebe. Muito bom! Otima matéria

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  2. excelente...
    Mas isso se deve mesmo ao fato de que muitos argentinos são prepotentes...

    O Brasil tb tem a fama no mundo de ter bastante prostitutas... assim muitas brasileiras são discriminadas em vários lugares no mundo..

    Idem os argentinos...a maioria paga por alguns...

    Bem vindo ao mundo real...

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  3. comparação sem sentido, absurda.

    daqui a pouco vai comparar "jogadores catimbeiros" da Argentina com "Políticos corruptos" do Brazil

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  4. na real o Brasil e sim essa por.. ki os argentinos falam mais nois sabemos disso e eles ki so si acham europeus se tiver um lugarzinhu la ele sao capazes de levar o porra di pais deles pra la so pra dize ki sao europeus.pra que isso?eu nasci no brasil e tenho orgulho de dizer ao contrario de mtos argentinos ki so tem orgulho do maradona akele drogado filho da puta

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